Luzes e Sombras - Texto de Sebastião Milaré

O exercício fotográfico de Nezito Reis não acontece por mero diletantismo. Tem uma função específica e útil à sua atividade principal, que é a de iluminador cênico.

Ao fotografar volumes e superfícies, estruturas arquitetônicas e paisagens, ele está se colocando numa relação direta não apenas com o objeto, mas sobretudo com a luz e a sombra que o definem e lhe conferem identidade.

Isso nos remete aos impressionistas, que qualificavam o objeto não pela forma, mas pela incidência luminosa. Exagerando o conceito, seria o mundo visível uma arquitetura luminosa, à qual o oposto da luz, a sombra, daria noção de volumes. Não se trata de escamotear a realidade técnica de quem sem a incidência da luz a película fotográfica não "queima", não imprime e, portanto, não fixa no papel a imagem. Isso é verdadeiro, mas tal condição técnica é a fonte da poesia na arte fotográfica, pois para transcender ao simples "registro" e alcançar uma verdadeira "expressão", o fotógrafo deve transcender a própria técnica e transformá-la verdadeiramente em linguagem.

A fotografia capta um instante da luz e o fixa. Torna absoluto o que é relativo, já que imobiliza o movimento. Ao passo que a iluminação cênica se constitui do desafio de fornecer a ilusão do movimento da luz através de "instantes". Não é como se passa na natureza. E a visão contemporânea da iluminação cênica sequer pretende "imitar" a natureza, mas estabelecer uma verdade artística, uma expressão estética.

São essas, acredito, as coordenadas imprescindíveis para apreciar o trabalho fotográfico de Nezito Reis. Não se trata de ensaio fotográfico, mas exercício de iluminador. E nisso reside o seu interesse estético. São imagens naturalistas e estáticas, porque foram registradas com o propósito de captar um instante da luz e não de sugerir o seu movimento. A fruição dessas imagens proporcionam ao espectador um sensação de calma, um estado introspectivo que o conecta aos aspectos da natureza fixados naquele instante. E, neste sentido, o exercício do iluminador cênico se encontra com a expressão do fotógrafo.

Sebastião Milaré

 

 

 

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