Texto da orelha: Trajetória de Azambuja Calado

Os Caminhos de um Brasileiro

 

Minas Gerais guarda um pedaço de sua história que é cheio de simbolismo mágico e, de certa forma é uma metáfora da vida: O Caminho Novo, também conhecido como Estrada Real.
Este trajeto tortuoso que partia da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro e chegava na reluzente Diamantina, antigo Arraial do Tejuco, onde brilhavam os olhos e as jóias da célebre Chica da Silva foi o meio de comunicação mais surpreendente de Minas. Por lá passou ouro, tramas e revoluções. Contrabando de riquezas, ideais e sonhos. Ao longo desta estrada cheia de lendas e histórias, muitos arraiais, vilas e cidades surgiram. Mesmo imersos na província distante de tudo e fechada aos estranhos, tínhamos a grande rota de passagem de tudo o que vinha de fora. O isolamento e o espírito cosmopolita se misturavam de forma estranha e surpreendente.
Talvez seja esta vocação de inesperada junção do isolado com a abertura para o mundo tenha forjado este jeito diferente destes mineiros matutos e astutos que ali começaram sua caminhada.
Nezito Reis, autor deste belo livro, talvez não assuma diretamente a intenção confessional e autobiográfica de sua obra, mas o certo é que muito do que fala seu personagem-narrador é dele mesmo extraído e este olhar atento tão bem apresentado ao longo das páginas seguintes, tem muito a ver com a gente que se acostumou a ver a vida passar pela Estrada Real. E, quando cansou de ver passar, resolveu caminhar também por ela.
Cipotânea, Barbacena, Juiz de Fora, Rio de Janeiro, São Paulo, Buenos Aires, Nova Iorque. Nenhuma cidade ou acidente geográfico é capaz de prender a alma aventureira do homem que deseja conhecer o mundo e a vida, não por ouvir dizer, mas com os próprios olhos e por meio do coração.
Este livro fala de caminhada. Os pés do viajante levados pelo coração. A estrada é sua própria existência. Por ser trajetória é estrada. Por ser vida é real.
Vida real. Estrada irreal...

Edson Brandão
Artista Gráfico e Historiador

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